quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ensino Religioso: Região das Missões; (A cultura e a religiosidade indígena, patrimônio mundial.)

A formação da atual Região das Missões deve ser analisada desde a ocupação das etnias Guarani, Kaingang e Charrua nesse território. É necessário conhecermos aspectos da cultura da principal etnia que ocupava as áreas do planalto às margens dos rios Ijuí e Uruguai, quando da chegada dos Europeus: os Guarani.
"As primeiras aldeias da tradição tupi guarani no Rio Grande do Sul estão ao longo do rio Uruguai, no nordeste do estado. Estima-se que as mais antigas remontam ao tempo do nascimento de Cristo ou um pouco depois". Quando analisamos o processo migratório guarani, além da busca por melhores terras para aplicação de suas horticultura de subsistência, cabe-nos analisar um ponto particular da cultura desse povo, que se expressa na crença da busca de uma Terra-sem-Mal, ou Ivy-Marae, na língua guarani. Na atualidade, muitos estudiosos acreditam que essa crença guarani, que se expressa na procura de um paraíso na terra "(...) onde os alimentos fluíam com permanente fartura e não havia necessidade de de trabalhar para plantar e colher", além de caracterizar ideologicamente o nomadismo dessa população, possa ter influenciado em igual, ou maior proporção, essa dispersão populacional ocorrida há mais de 2.000 anos.
Os Guarani, destacaram-se pela elevada complexidade de sua organização religiosa, familiar, artística e tecnológica. O nível cultural dos Guarani se destaca, "por aspectos que deixaram benefícios a humanidade". Entre os conhecimentos mais importantes estão à língua, que se difundiu e se mesclou às línguas latinas da América do Sul, e também, as práticas agrícolas como o cultivo da mandioca, do tabaco, da erva mate, do milho entre outros, além da descoberta das propriedades medicinais de várias plantas nativas.
Para conhecer melhor a sociedade Guarani pré-colonial, precisamos levar em conta a religiosidade,  suas crenças e rituais. Nesse sentido podemos destacar uma religião com fundamentos politeístas, com a crença em várias divindades protetoras, mas com a sobreposição de um Deus superior, criador de todas as coisas. Acreditavam ainda na imortalidade da alma, e que esta após a morte alcançaria a felicidade em um mundo sobrenatural. O cacique poderia exercer o papel de curandeiro e guia religioso, porém essa função na maioria da aldeias era exercida pelos pajés, líderes religiosos chamados por eles de Karaí, que orientavam os indivíduos nas doenças e males, buscando soluções no canto das aves, chupando os locais doloridos e extraindo deles objetos simbolizadores do mal.
Provavelmente também estavam ligados à perpetuação dos mitos, nos quais se vinculavam as verdades fundamentais do seu modo de ser e de viver.
Entre os rituais Guarani se destaca as doenças e o consumo de bebidas fermentadas com intuito de invocar espíritos de antepassados, rituais de sepultamento, onde o morto era colocado dentro de um grande vasilhame cerâmico em posição fetal coberto por um vasilhame menor onde acreditavam que a alma ficava depositada, até os rituais antropofágicos elaborados, considerados pelos padres como atos de extrema crueldade, e que na concepção guarani não eram nada mais do que momentos de festa em que exaltavam a bravura dos guerreiros, além do costume da poligamia.
Os Guarani apresentavam o perfil psicossocial necessário para a vida em uma redução, conforme o projeto jesuítico. Eram, horticultores, viviam em comunidades e tinham espírito solidário e grande interesse pelas artes. Enfim, o guarani tinha muitas qualidades naturais favoráveis ao cristianismo.
A conquista e a colonização dos espanhóis na América estavam embasadas na evangelização e civilização. A atuação dos jesuítas na América do Sul, mais precisamente na Província do Paraguai, que compreendia regiões do Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia, foi, durante os primeiros contatos repelida pelos indígenas, como exemplo disto temos na morte, na atual região missioneira gaúcha, dos padres missionários João de Castilhos, Roque Gonzáles de Santa Cruz e Afonso Rodriguez. (Os mártires de Caaró).
O começo dos chamados Sete Povos das Missões, ocorreu nas duas últimas décadas do século XVII. A fundação da colônia do Santíssimo Sacramento no rio da Prata, em 1680, e os interesses comerciais de portugueses e espanhóis, contribuiu para que jesuítas e guaranis se organizassem, fundando próximo ao rio Uruguai a redução de São Francisco de Borja em 1682, iniciando outra fase missioneira, que durou até 1768, sob a orientação da Campanha de Jesus. Com a fundação da redução de Santo Ângelo Custódio, em 1707, elevaram-se a trinta o número de Povos Guaranis  e a sete o número de Reduções Jesuíticas no atual território brasileiro.
Os Sete Povos das Missões, mundialmente conhecidos e reconhecidos com patrimônio histórico e artístico da humanidade, devido ao grande nível de desenvolvimento atingido por estes povos, organizados em reduções através do trabalho dos jesuítas, tiveram início com a fundação da redução de São Francisco de Borja, seguidos de São Nicolau, São Luís Gonzaga, São Miguel Arcanjo, São Lourenço, São João Batista e por último Santo Ângelo Custódio.
A fundação de missões jesuíticas nas zonas intermediárias entre os territórios coloniais espanhol e português possuía o sentido de guarnecimento das fronteiras. O fator principal que ocasionou a decadência dos Sete Povos foi sua localização em uma zona de conflito.
Na arte, os guaranis incluíram em imagens e esculturas características e feições próprias: por isso  criou-se a denominação de arte barroco-missioneira para esse estilo desenvolvido nas reduções. Muitos exemplares dessas obras resistiram ao tempo e ainda se conservam até os dias atuais. Canto, música, dança e melodrama eram as principais diversões do povo aos domingos e nas e grandes festividades religiosas.
Os indígenas atribuíram uma enorme importância à religião católica e suas práticas, que inicialmente era um fator externo, mas com o tempo e as horas destinadas aos cultos, missas sermões e catequese, na visão dos padres, cederam às pregações e tornaram-se fiéis devotos do catolicismo, embora nunca deixassem por completo sua cultura ancestral.




(Samara Göttems Donatti.)





































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